Será que o meu filho tem Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA)?
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é um tema complexo, frequentemente envolto em mal-entendidos e estigmas. Este artigo visa proporcionar uma visão aprofundada e fundamentada sobre a PHDA na infância e adolescência, destacando as suas características, causas e abordagens de intervenção. Respondemos também a algumas perguntas mais frequentes sobre esta perturbação.
O que é a PHDA?
A PHDA é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de uma pessoa prestar atenção, controlar impulsos e regular a energia. Estudos indicam que aproximadamente 5% da população infantojuvenil é afetada por esta perturbação (APA, 2013; WHO, 2018).
Características da PHDA
Os sintomas da PHDA podem ser divididos em dois grupos: comportamentos de desatenção e comportamentos hiperativos e impulsivos.
Sintomas de desatenção da PHDA:
- Comete erros por descuido
- Distrai-se facilmente
- Não parece ouvir quando se fala diretamente para ele/a
- Tem dificuldade em seguir instruções
- Tem dificuldade em se organizar
- Evita ou não gosta de fazer esforço prolongado
- É esquecido/a, perde objetos pessoais com frequência
Sintomas de hiperatividade ou impulsividade da PHDA:
- Inquietação, mexer-se frequentemente, ou dificuldade para permanecer no mesmo lugar ou esperar a sua vez
- Corre ou trepa excessivamente
- Dificuldade em brincar silenciosamente
- Extrema impaciência
- Parece estar sempre “em movimento” ou “ligado à ficha”
- Conversa ou interrupção excessiva, dando respostas sem parecer pensar muito
Algumas crianças apresentam predominantemente o primeiro grupo de sintomas de PHDA, e algumas apresentam predominantemente o último, podendo ambos aparecer em combinação. Isto pode dificultar muito o seu desempenho na escola e noutras atividades, além de criar conflitos em casa.
Causas da PHDA: Enraizadas na Biologia e Genética
Estudos de neuroimagem sugerem diferenças na estrutura e funcionamento do cérebro em indivíduos com PHDA, particularmente em áreas relacionadas com a atenção e controlo impulsivo (Cortese et al., 2012). Além disso, evidências de estudos genéticos indicam uma predisposição genética para o desenvolvimento da PHDA (Thapar et al., 2013).
Abordagens de Intervenção
A gestão eficaz da PHDA requer uma abordagem integrada. Intervenções comportamentais, psicoeducacionais e farmacológicas têm mostrado eficácia (AACAP, 2019). Terapias cognitivo-comportamentais e o uso de medicamentos, são estratégias comuns na gestão dos sintomas (NICE, 2018).
A educação e o apoio familiar são também elementos cruciais na gestão bem-sucedida da PHDA. Estratégias adaptativas na sala de aula, apoio emocional e colaboração estreita entre pais, professores e profissionais de saúde são fundamentais (Pelham & Fabiano, 2008).
Perguntas Frequentes sobre a PHDA: Desmistificar Mitos e Esclarecer Dúvidas
1. Uma criança/jovem que não é hiperativa pode ter PHDA?
Sim, é possível. Embora a hiperatividade seja um dos sintomas da PHDA, muitas crianças com PHDA não apresentam esse comportamento. Existem três subtipos principais de PHDA: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo e o tipo combinado, que inclui ambos os conjuntos de sintomas.
2. Por que as crianças com PHDA conseguem concentrar-se em algumas coisas? O que é hiperfoco na PHDA?
O hiperfoco é um fenómeno em que uma pessoa com PHDA pode concentrar-se intensamente em algo que lhe interessa profundamente. Embora tenham dificuldade em manter a atenção em tarefas rotineiras ou em manter esse tipo de foco em algo que não seja imediatamente gratificante, quando algo captura o seu interesse, podem dedicar horas a essa atividade específica.
3. A PHDA afeta crianças/jovens fora do contexto escolar?
Sim, a PHDA pode afetar várias áreas da vida de uma criança/jovem, não apenas a escola. O impacto estende-se às interações sociais, desempenho em atividades extracurriculares e relações familiares. As crianças com PHDA podem ter dificuldade em fazer e manter amigos porque interrompem constantemente e são propensos a explodir quando não conseguem o que querem.
Em casa, podem surgir conflitos com os pais e irmãos porque não seguem as instruções, são impulsivos e podem desregular-se emocional/ comportamentalmente quando é necessário fazer a transição entre alguma atividade de que gostam e as refeições, fazer os trabalhos de casa ou o momento de ir dormir.
Quando as crianças com PHDA chegam à adolescência, a sua impulsividade pode ser perigosa, tornando-as propensas a acidentes de carro, comportamentos sexuais de risco e outros.
4. Por que é que as crianças/jovens com PHDA são frequentemente desafiadoras ou demonstram comportamento opositor?
Comportamentos desafiadores muitas vezes decorrem das dificuldades que as crianças/jovens com PHDA enfrentam na regulação emocional e na gestão de impulsos. A PHDA pode impactar a capacidade de avaliar as consequências das ações antes de agir, levando a comportamentos impulsivos ou desafiadores.
Crianças com PHDA podem revelar-se desafiadoras quando confrontadas com tarefas que lhes são particularmente difíceis, especialmente quando implica interromper algo que consideram prazeroso. Há situações que se tornam difíceis de lidar (por exemplo, fazer os trabalhos de casa, ir para a cama, vestir-se ou jantar) devido a défices na capacidade de prestar atenção, tolerar situações monótonas, controlar impulsos e fazer a transição de atividades prazerosas. Dado que estas situações representam um verdadeiro desafio para eles, é comum que tentem evitá-las. As estratégias de evitamento que estas crianças normalmente empregam manifestam-se através de comportamentos disruptivos, episódios de raiva, discussões e lutas de poder com as figuras de autoridade.
5. Será que o meu filho tem PHDA?
Embora todas as crianças sejam por vezes distraídas e inquietas, as crianças com PHDA comportam-se desta forma com muito mais frequência do que outras crianças da sua idade. E a sua incapacidade de se acalmarem, concentrarem-se e realizarem as tarefas de forma adequada à idade torna muito difícil fazerem o que se espera delas na escola. A PHDA também pode causar conflitos em casa e dificuldades de relacionamento com os colegas. Reconhecer os sinais de possível PHDA pode ser desafiador, mas se observar persistentemente dificuldades de atenção, impulsividade ou hiperatividade que afetem a vida quotidiana do seu filho, é aconselhável procurar a avaliação de um profissional de saúde, como um pediatra, pedopsiquiatra ou psicólogo. Um diagnóstico precoce e intervenção adequada podem ser fundamentais para o bem-estar e ajustamento futuro da criança.
6. É possível superar a PHDA?
Embora a PHDA seja uma perturbação crónica, muitas pessoas desenvolvem estratégias eficazes para gerir os sintomas ao longo do tempo. Intervenções comportamentais, terapias e medicação podem ser ferramentas importantes na gestão da PHDA. Com o apoio adequado, as crianças e adolescentes com PHDA podem alcançar sucesso académico e pessoal.
Esperamos que estas respostas ajudem a esclarecer algumas das dúvidas comuns sobre a PHDA. Se estiver a questionar se o seu filho pode ter PHDA, a consulta com um profissional de saúde é crucial para uma avaliação adequada. Marque já a sua.