A Dor Silenciosa: Compreender os Comportamentos Autolesivos na Adolescência
A adolescência é uma fase de intensas mudanças emocionais e sociais, e muitos jovens enfrentam desafios significativos durante este período. Infelizmente, alguns adolescentes recorrem a comportamentos autolesivos como uma forma de lidar com a dor emocional que estão a enfrentar. Esses comportamentos, como cortar-se, queimar-se ou praticar outros atos autolesivos, são sinais de angústia emocional e requerem atenção e compreensão.
Compreender Comportamentos Autolesivos
Os comportamentos autolesivos na adolescência são complexos e multifacetados. Muitas vezes, podem ser uma expressão externa de uma dor interna profunda, sendo uma forma de aliviar sentimentos avassaladores ou encontrar uma sensação temporária de controlo. É crucial reconhecer que estes comportamentos não são meramente uma tentativa de chamar à atenção, mas sim um sinal de sofrimento emocional subjacente.
Existem diferentes tipos de comportamentos autolesivos como:
- cortar, arranhar, ou marcar-se a si mesmo;
- retirar as crostas para que não cicatrizem;
- puxar/arrancar o próprio cabelo;
- queimar-se;
- morder, magoar ou bater em si mesmo;
- bater partes do corpo em algo duro.
Sinais de Comportamentos Autolesivos
Adolescentes que praticam comportamentos autolesivos, muitas vezes tentam escondê-lo. Frequentemente, têm vergonha do seu comportamento e temem que as pessoas fiquem zangadas, os rejeitem ou não entendam por que estão a fazê-lo.
Se está preocupado com a possibilidade do seu filho se estar a magoar a si mesmo, aqui estão alguns sinais a serem observados:
- Cortes ou Marcas Inexplicáveis: Observar cortes ou marcas inexplicáveis nos braços, pernas ou outras partes do corpo pode ser um indicador de comportamento autolesivo.
- Evitar Atividades como natação, onde as suas pernas, braços ou tronco possam ser vistos, ou usar roupas que cubram os seus braços e pernas, mesmo em dias quentes, podem ser uma tentativa de esconder marcas.
- Isolamento Social: Adolescentes que praticam comportamentos autolesivos muitas vezes tendem a isolar-se socialmente. O isolamento pode ser uma forma de esconder a sua dor e evitar perguntas desconfortáveis, ou um dos fatores contribuintes para este tipo comportamentos.
- Mudanças no Comportamento Alimentar: Variações extremas no comportamento alimentar, como a recusa em comer ou compulsões alimentares, podem estar relacionadas com problemas emocionais.
- Declínio no Desempenho Escolar: O sofrimento emocional pode afetar o desempenho académico. Um declínio repentino nas notas ou falta de interesse na escola pode ser um indicador.
- Fatores Emocionais: Como mudanças de humor, ficar irritado a maior parte do tempo, ter explosões de temperamento contínuas, sentir-se triste, vazio ou sem esperança, sentir-se inútil ou muito culpado, e parar de se preocupar com a sua aparência.
O Que Fazer Se o Seu Filho Tem Comportamentos Autolesivos
Ao abordar a questão dos comportamentos autolesivos na adolescência, é fundamental agir com sensibilidade e compaixão.
É natural que sinta medo, culpa, choque, pânico ou até raiva. Pode ser difícil entender o que está a acontecer e porquê – e o seu filho pode não ter palavras para lhe contar. Mas mantendo a calma, sendo respeitoso e tranquilizador, não julgando ou reagindo negativamente e ouvindo ativamente, poderá compreender melhor os pensamentos, sentimentos e comportamento do seu filho e ter ideias sobre como ajudar.
Quando descobre que o seu filho tem comportamentos autolesivos é melhor evitar reagir com raiva ou ameaças. Dizer que o seu filho está a fazê-lo apenas para chamar a atenção também não ajudará.
Preste os primeiros socorros em caso de cortes ou ferimentos com calma e sem complicações. Procure atendimento médico para qualquer ferimento que pareça sério. Pode dizer algo como: "Gostaria de ajudar-te a curar esses cortes" ou "Vamos buscar um antisséptico para ajudar estes cortes a cicatrizarem rapidamente". Pode fazer algumas perguntas ao seu filho sobre a automutilação, mantendo em mente que as pessoas que se automutilam podem sentir vergonha disso. Por isso, é importante manter a calma, não julgar e ouvir em silêncio, sem interromper.
Por exemplo:
"Reparei nas cicatrizes no teu braço.Podes contar-me sobre os momentos em que te magoaste?"
"O facto de te estares a magoar a ti mesmo mostra-me que estás em sofrimento. Podes não gostar do facto de eu ter descoberto. Não vou fazer muitas perguntas agora, mas quero ajudar – quando estiveres pronto."
Outras Formas de Apoiar Adolescentes com Comportamentos Autolesivos
- Comunicação Aberta: Estabelecer um ambiente onde os adolescentes se sintam confortáveis para falar sobre os seus sentimentos é crucial. Ouvir sem julgamento é essencial.
- Procura de Ajuda Profissional: Incentivar a procura de ajuda profissional é vital. Psicólogos e pedopsiquiatras têm as ferramentas necessárias para lidar com questões emocionais complexas. Agende a sua consulta aqui.
- Envolvimento Familiar: O apoio familiar desempenha um papel crucial. Envolver a família no processo de recuperação pode fortalecer os laços emocionais e proporcionar um sistema de apoio estável.
- Educação sobre Saúde Mental: A educação sobre saúde mental é fundamental. Destacar a importância de cuidar da saúde mental, assim como da saúde física, ajuda a reduzir o estigma associado aos problemas emocionais.
O Que Fazer Se Eu Tenho Comportamentos Autolesivos
Podes tentar as seguintes estratégias quando sentires vontade de te magoar:
- Encontra alguém com quem te sintas confortável para te distrair dos teus pensamentos.
- Contacta um serviço de suporte online ou por telefone, como SOS Voz Amiga através do 213 544 545.
- Faz atividades de atenção plena, exercícios respiratórios ou relaxamento muscular.
- Faz uma caminhada ou uma corrida.
- Faz algo criativo, como desenhar, escrever ou tocar música.
- Substitui a automutilação por outra coisa, como desenhar no corpo com uma caneta, esfregar gelo na pele, colocar um elástico no pulso e sacudi-lo suavemente, gritar ou bater na almofada, ou comer algo picante.
Conclusão
Tentamos com este artigo sensibilizar sobre a presença dos comportamentos autolesivos na adolescência e a destacar a importância de oferecer apoio e compreensão. Ao reconhecer os sinais, promover a comunicação aberta e encorajar a procura de ajuda profissional, podemos ajudar os adolescentes a superar a sua dor emocional e a construir um caminho para o bem-estar.